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This is a project that I started long time ago and I'm now working on it. Language: Portuguese.

Ventos Trocados

 Language: Portuguese
Excerto
Capítulo 2

Conhecera Camões numa taberna em Lisboa quando este cercado por livros e copos de cerveja vazios tentava, arduamente, estudar para os exames finais de um curso de computadores por correspondência a que se propusera com o objectivo de obter um emprego na repartição de finanças local. A vida não estava para brincadeiras e o dinheiro que herdara pela morte da sua tia-avó mal dera para pagar as rendas em atraso e o subsídio de desemprego não era suficiente nem para mandar tocar um cego. Era preciso fazer qualquer coisa e depressa pois o fim do mês estava próximo e a proprietária da pensão onde alojava o corpo maltratado pela História prometera-lhe despejo se não fosse pontual no pagamento. As esparsas, sonetos e toda a poesia que escrevia não eram negociáveis e era preciso pagar para se viver. Antes de recorrer aos trabalhos penosos no cais da Ribeira a acartar caixas de sardinhas, iria tentar um empregozito no seio dos chulos do governo.

Zézito sentado numa mesa próximo escrevia descontraidamente a sua tese sobre o sentido da vida: “Tendo provado cientificamente por processos não científicos, é claro, que no Ártico não existem formigas, vejo-me na situação ingrata de não poder continuar os meus estudos acerca da vida sexual das mesmas. Em contrapartida e indesejávelmente iniciei o estudo da vida sexual dos mosquitos, pois estes não param de me foder a pele na tentativa estúpida de me chuparem o sangue. Descendentes dos mosquitosauros, os mosquitos são...” Zézito interrompia aqui a sua tese pois o empregado de mesa abordara-o com a intenção de o servir. O pedido era formulado e este de regresso ao balcão passava pela mesa de Camões para levantar a loiça que se acumulara na sua longa permanência.

Camões emergindo por entre os micro-chips derramados arrumava as contas com o garçon e... Tráz mais uma que é para a desgraça. Isto é assim, ou morre ou fica maluco - Ao mesmo tempo os seus olhos circum-navegavam os arrabaldes da sala enevoada pelo fumo dos cigarros assinalado pelos raios de sol que rasgavam a penumbra em feixes de luz cruzada e descobriam a idade do tempo, em teias de aranha suspensas pelo acumular dos anos nas garrafas vestidas de pó e tristeza... e as cadeiras e as mesas esfoladas pela indiferença da azáfama nos dias turbulentos... e o mármore do balcão e chão... e o topo das mesas, enegrecido pelo cheiro do vinho que escorria da imundice do pano de limpeza e se infiltrava no eco das palavras negligentes de sarcasmo e repugnância decadente... e as moscas embriagadas pela porcaria adjacente sobrevoavam os ares agitadas de contentes... e Camões, tão só como somente e sempre, perdido no esquecimento e nas viagens dos descobrimentos e nos amores de outros tempos deparava com os olhos de Zézito que o observava intrigado.

Demasiado tarde para evitar a intrusão e apanhado em flagrante delito em terras alheias, Zézito improvisou apressadamente ...Desculpe . Por acaso não sabe os resultados do totobola? - Camões pensou demoradamente e disse ...O Benfica ganhou e... o Sporting perdeu como é habitual, mas... tome lá, tem aqui o jornal “A Bola” actualize-se, aliás pode ficar com ele que eu já o li. Zézito levantou-se e foi buscar o famoso jornal “Muito obrigado” disse, “Não tem de quê” respondeu Camões sorrindo.

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Ventos trocados
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